Você possivelmente já ouviu, e até cantarolou o hino Bella Ciao em algum momento, certo? Essa canção é símbolo de um importante momento da história italiana! A Bella Ciao passou por um grande processo de despolitização recentemente, visto que apesar de conhecida como canção, muitas vezes não é lembrada como parte da história do 25 de abril, o Dia da Libertação da Itália.
Posters decorativos, camisetas, adesivos e muitos outros produtos podem ou não carregar em si a representatividade daquele momento. E como, nas palavras de Milton Assi Hatoum, “a vida começa verdadeiramente com a memória”, convidamos a um breve passeio na história recente da Itália para que frases e objetos com referências históricas passem a ter o seu verdadeiro valor.
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Contexto histórico da libertação
O dia 25 de abril é uma data importante no calendário italiano porque marca a expulsão das tropas fascistas das cidades de Milão e Turim através das forças italianas de resistência ao regime vigente. Entenda.
Benito Amilcre Andrea Mussolini foi comandante do regime fascista na Itália e fundador do Partido Nacional Fascista. Ele chegou ao poder em 1922 com a chamada “Marcha sobre Roma”, ano em que o regime fascista teve início. Marcado por políticas reacionárias, antiparlamentaristas, antidemocráticas, antiliberais e antissocialistas, o fascismo deixou milhares de mortos.
Destituído do título de Chefe de Estado pelo Conselho Fascista em 1943 após consecutivas derrotas, foi preso. Porém, posteriormente, foi libertado pelos aliados alemães sob ordens de Hitler, antes de ser preso uma segunda vez por guerrilheiros italianos. A segunda prisão culminou em sua morte por fuzilamento em 28 de abril de 1945.
Três dias antes, a resistência italiana expulsava as tropas nazifascistas de seu território, marcando assim o dia 25 de abril como o Dia da Libertação da Itália. Nesta data, o Comitê de Libertação Nacional (CLN) enviou convocações a todas as forças progressistas ordenando ataques às tropas inimigas em uma grande ação de resistência transnacional. A primeira comemoração da Resistenza Italiana marcou o início de um novo momento político-social. Até o dia 1° de maio daquele ano, todo o território da Itália estava livre das forças inimigas, finalizando 20 anos sob governo totalitário.
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Da resistência ao remix
A canção Bella Ciao‘ tem autoria desconhecida, mas era entoada e frequentemente associada às forças progressistas. Traduzida para mais de 40 idiomas, a referência ideológica mais clara na letra é a de se referir à resistência.
Para quem é familiar com a história recente da Itália, não é preciso mais nenhuma informação. Mas, para quem não está tão próximo dessas questões, esse detalhe pode passar despercebido (“E essa será a flor da Resistência/ Querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus!/ E essa será a flor da Resistência/ Daquele que morreu pela liberdade”). Talvez por isso, com o passar dos anos e das gerações, a canção tenha perdido um pouco de seu referencial político.
Resgatada pela série La Casa de Papel, produzida pelo Netflix e de grande sucesso no Brasil, foi entoada pelo público brasileiro e veio a se tornar um remix de funk. Caminho inesperado para uma canção anti-nazista, mostrando que o mundo globalizado é mesmo cheio de possibilidades e surpresas.
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Festividades
Parte muito importante do calendário, 25 de abril é dia de celebrar a liberdade e a democracia em um feriado nacional chamado Anniversario della liberazione d’Italia. Comumente comemorado nas ruas com a população que se junta para shows e apresentações, a data recebeu nova roupagem em 2020.
Com a pandemia e as rígidas regras de isolamento, tornou-se inviável convocar a população como de costume. Mas o feriado da liberdade não deixou de ser comemorado. Chamados às janelas, italianos e italianas de todo o território nacional estenderam suas bandeiras e cantaram Bella Ciao.
Una mattina mi sono alzato
O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao
Una mattina mi sono azalto
E ho trovato l’invasor
O partigiano, portami via
O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao
O partigiano, portami via
Ché mi sento di morir
(…)
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